Estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) aponta que a queda no desenvolvimento humano no Brasil, desde a pandemia, afetou mais as mulheres negras. São o grupo populacional mais vulnerável, apesar de representarem a maioria da população brasileira (28,5%).
Os dados mostram que 27,4% dos domicílios no Brasil são responsáveis por mulheres negras, que abrigam proporcionalmente mais pessoas (29,5%) e mais filhos (34,7%). Na amostra de 10% das pessoas com menor renda domiciliar per capita, as mulheres negras estão à frente de 42,8% dos domicílios, onde vivem 51,5% das crianças.
A coordenadora da Unidade de Desenvolvimento Humano do PNUD no Brasil, Betina Barbosa, explica que os dados do relatório e a situação de vulnerabilidade das mulheres negras foram desenvolvidos com base na escolaridade, renda e expectativa de vida. “É um conjunto de vulnerabilidades que faz da mulher negra o grupo social mais frágil e com a condição mais precária do Brasil — como a menor renda per capita e nível de escolaridade”, alerta.
O estudo apresenta, por exemplo, as diferenças de renda familiar que as mulheres negras têm em relação às mulheres brancas. Tal como acontece com as políticas de rendimento mínimo: 46,5% dos programas sociais são destinados às mulheres negras. “O foco destes programas, dadas as desigualdades encontradas nos rendimentos de outras fontes, principalmente os rendimentos do trabalho, é insuficiente para alterar as enormes desvantagens”, destaca o relatório.
O documento do PNUD conclui também que as diferenças raciais e de género agravam as desigualdades e diminuem os processos de desenvolvimento humano. “É importante destacar que os benefícios oferecidos às mulheres brancas, devido à sua cor, não são compartilhados com suas congêneres, as mulheres negras”, nota o documento.
Mario Theodoro, membro do Conselho Deliberativo do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra), destaca que a desigualdade nos lares administrados por mulheres negras começa na educação e no apoio que as crianças recebem. A falta de estrutura e a necessidade de trabalhar para sustentar a família dificultam o cuidado que essas mães teriam com seus filhos.
“Muitas mulheres negras também são trabalhadoras domésticas. Deixam de cuidar dos filhos para cuidar dos filhos da classe média. É uma catástrofe”, lamenta.
Estagiário sob supervisão de Fabio Grecchi
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