No início de maio, a Neuralink, empresa de Elon Musk que desenvolve implantes cerebrais, admitiu ter tido problemas com o dispositivo inserido em seu primeiro paciente humano, Nolan Arbaugh. Em blog, a empresa afirmou que vários fios “retraíram-se” do cérebro do jovem, “resultando na diminuição do número de eletrodos efetivos”, sem detalhar quantos dos 64 fios perderam a conexão. Agora, numa reportagem do The New York Times, foi revelado que 85% dos filamentos se separaram do cérebro de Arbaugh, que tem apenas 15% dos conectores funcionando.
A equipe do Neuralink esperava que seu cérebro formasse tecido cicatricial ao redor dos fios na base do cérebro para mantê-lo unido, de acordo com Arbaugh, algo que não aconteceu.
Apesar disso, a Neuralink fez ajustes no sistema do chip para utilizar a quantidade reduzida de sinais capturados do cérebro de Arbaugh e traduzi-los em comandos digitais. O revés fez com que Arbaugh perdesse a capacidade de “clicar” com o cursor do mouse, recurso que precisou ser improvisado pela Neuralink. Com isso, Arbaugh conseguiu controlar o cursor de um computador e jogar videogame por horas a fio, apenas com “o poder do pensamento”.
Cristin Welle, neurofisiologista da Universidade do Colorado que iniciou o programa de interfaces neurais da Food and Drug Administration (FDA) e aprovou os implantes, disse que o primeiro caso da Neuralink sugere que a empresa ainda enfrenta obstáculos no desenvolvimento de um dispositivo durável. “É difícil saber se isso funcionaria”, disse Welle ao Times. “Pode ser que um dispositivo totalmente flexível não seja uma solução a longo prazo”.
Acidente no lago
O relatório também detalhou a vida do paciente, que está tetraplégico e perdeu os movimentos abaixo do pescoço após bater a cabeça ao mergulhar em um lago nas colinas do nordeste da Pensilvânia, enquanto nadava com amigos.
Nos anos após o acidente, ele experimentou vários dispositivos projetados para pessoas com paralisia, mas, segundo Arbaugh, apenas o Siri em seu iPad se tornou realmente útil, permitindo-lhe fazer ligações e enviar mensagens de texto para amigos usando apenas sua voz.
O jovem, que hoje tem 30 anos, foi convencido por um amigo a inscrever-se nos primeiros testes em humanos da Neuralink em 2023, e confessa que não tinha “ligações fortes” a Musk, mas que sentia que estava a impulsionar o progresso. e que “tudo que ele tocou virou ouro”.
Após a cirurgia que implantou o pequeno dispositivo em seu cérebro em janeiro, Arbaugh passou por uma série de treinos que classificou como “tediosos e repetitivos, mas gratificantes”. Em seu primeiro dia usando apenas um computador, Arbaugh quebrou o recorde mundial de 2017 de precisão e velocidade de controle do cursor em um computador.
Arbaugh disse que terá a opção de deixar o estudo da Neuralink depois de um ano, mas espera poder continuar trabalhando com a empresa por mais tempo.
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