A resposta à decisão do governo espanhol veio na forma de um novo delito. “É um absurdo típico de um socialista arrogante. (…) Ele fez uma escalada diplomática absolutamente sem sentido”, disse o presidente da Argentina, Javier Milei, depois que o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, retirou a embaixadora María Jesús Alonso Jiménez, “ definitivamente”. No domingo (19/5), em visita a Madrid, onde participou de um encontro de líderes de extrema direita organizado pelo partido espanhol Vox, Milei chamou a mulher de Sánchez, Begoña Gómez, de “mulher corrupta”. Ele também descreveu o socialismo como “satânico” e “canceroso” – o primeiro-ministro espanhol é líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE).
Além de chamar o líder espanhol de “arrogante”, o ultralibertário argentino acusou-o de sofrer de um “complexo de inferioridade” e de ter “totalitarismo no sangue”. Milei anunciou ainda que retornará à Espanha no dia 21 de junho, onde receberá o Prêmio Juan de Mariana, destinado a personalidades que defendem ideias de liberdade. “Veremos se o seu grande complexo de inferioridade permite que os liberais espanhóis me recompensem pessoalmente”, provocou, na rede social X. Em quase seis meses à frente da Casa Rosada, Milei enfrenta o pior de uma série de problemas diplomáticos. crises.
“Não há precedentes para um chefe de Estado ir à capital de outro país para insultar as suas instituições e fazer uma interferência flagrante nos assuntos internos”, declarou o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares. O chefe da diplomacia em Madrid convocou o embaixador Jiménez para consultas e exigiu um pedido formal de desculpas de Milei. A ministra dos Negócios Estrangeiros da Argentina, Diana Mondino, tentou acalmar as coisas e referiu-se à crise como uma “anedota”, reforçando que “não deve ser algo que afecte” o vínculo bilateral.
Construindo poder
Mara Pegoraro, cientista política da Universidade de Buenos Aires (UBA), admitiu Correspondência que as palavras de Milei sobre Begoña Gómez foram “infelizes” e desencadearam uma crise. “Esta situação deve ser avaliada no contexto em que o presidente Javier Milei pensa a política. Neste contexto, o governo argentino criou adversários, pois isso lhe permite sustentar altos níveis de agitação. explicou.
“A decisão de Sánchez de destituir o embaixador não é o mesmo que fechar a embaixada, mas ainda é uma mensagem de alerta para Buenos Aires”. O estudioso lembra que as relações entre Argentina e Espanha são anteriores ao governo de Milei. “Interpreto este incidente como mais um elemento na construção de uma política contraditória para que Milei se fortaleça internamente”, acrescentou.
O colega de Pegoraro, professor Miguel De Luca, minimizou a crise. “É um conflito internacional sem consequências económicas ou comerciais. Vejo mais como um duelo ideológico, não de interesses económicos”, comentou, via WhatsApp. Para Carlos Fara, especialista em opinião pública e comunicação governamental em Buenos Aires, a crise foi “longe demais”. “Na esfera diplomática, o que se faz é chamar o embaixador para consultas. Isto representa um alerta sério. Muitos países mantêm relações a nível de encarregado de negócios há vários anos, em consequência de uma crise”, disse ao repórter. . “Remover o embaixador é quase como fechar a embaixada.”
Fara comentou que Milei ameaçou não manter o embaixador da Argentina em Madrid, o que agrava ainda mais a situação. Ele acredita que, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Argentina e Brasil não terão relações fluidas. Ele destacou ainda que Milei não tratará o Mercosul como prioridade. “Milei personalizou diversas disputas, como com Gustavo Petro (Colômbia), Chile, Venezuela, Nicarágua e México. Nesse sentido, ele não faz um favor às relações regionais, pois colocou a ideologia acima de tudo”.
EU PENSO…
(foto: Fotos: Arquivo pessoal)
“Apesar de um infeliz incidente, o presidente Milei nos habituou a esse tipo de atitude. Estas são demonstrações de sua loucura e fazem parte da maneira como ele construiu sua legitimidade eleitoral. Acredito que o Brasil e outros parceiros dos países da União Europeia adotarão prudência e tentaremos acalmar esta situação tensa. A crise é mais de retórica do que de conteúdo ou forma.”
Mara Pegoraro, cientista político da Universidade de Buenos Aires (UBA)
(foto: arquivo pessoal)
“A Espanha é um país mais importante que a Argentina no cenário internacional. Não só faz parte do G-20, como também é membro da União Europeia. . Ninguém interpreta que as opiniões de um presidente são apenas de natureza pessoal e não afetam as relações entre os países.”
Carlos Faraespecialista em opinião pública em comunicação governamental, em Buenos Aires
(foto: arquivo pessoal)
“Não vejo impacto na esfera econômica. As empresas fazem investimentos de acordo com as condições de mercado, e não de acordo com a pirotecnia do governo. Porém, diplomaticamente, haverá consequências. Só poderemos avaliar seu alcance com o tempo.”
Miguel DeLuca, professor de ciência política da Universidade de Buenos Aires (UBA)
Você gostou do artigo? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:


Dê sua opinião! O Correio tem espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail sredat.df@dabr.com.br