Com forte mensagem política, a 28ª Parada LGBT+ de São Paulo (SP) levou ontem cerca de 3 milhões de pessoas à Avenida Paulista, segundo estimativas dos organizadores. A quatro meses das eleições municipais, este ano a marcha adotou o lema “Basta de Negligências e Retrocessos no Legislativo: Vote conscientemente pelos direitos da população LGBT!”. A comunidade também exibiu verde e amarelo em suas vestimentas como forma de simbolizar a “retomada” das cores da bandeira —muito usada em manifestações bolsonaristas.
Desde a manhã, a galera tomou conta das ruas de São Paulo atrás dos 16 trios elétricos. Mais de 50 artistas se revezaram no palco, incluindo estrelas como Pabllo Vittar e Gloria Groove. A pedido dos organizadores do evento, ao tradicional arco-íris juntaram-se as cores nacionais. A ideia de incluir o verde-amarelo na festa nasceu após a apresentação de Vittar com a cantora Madonna, no Rio de Janeiro, em que os dois vestiram a camisa da seleção brasileira.
O “código de vestimenta” provocou oposição de Bolsonaro e apelou à reflexão sobre os direitos LGBT+. “Este ano denunciaremos o retrocesso e a omissão do Congresso e das Casas Legislativas em relação às nossas agendas. Em todos estes últimos anos não foi aprovada nenhuma lei que nos favoreça. Vamos responsabilizar o Legislativo e digamos também: vamos votar com sabedoria. Precisamos ter votos críticos, elegendo pessoas LGBT+”, enfatizou Nelson Matias Pereira, presidente da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo.
A marcha atraiu políticos de esquerda. Os pré-candidatos a prefeito da capital paulista. Guilherme Boulos (PSol-SP) e Tábata Amaral (PSB-SP) falaram em defesa da democracia, do respeito à diversidade e da igualdade de direitos. O atual prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB-SP), não compareceu ao evento.
A deputada federal Erika Hilton (PSol), primeira travesti negra a ocupar uma cadeira na Câmara, falou sobre engajamento. “Meus LGBTs ocupam as ruas de São Paulo reivindicando o verde e o amarelo da nossa bandeira. O Brasil é nosso! Estamos aqui hoje mandando a mensagem de que LGBTS construirão a democracia brasileira e não recuarão na luta pelos nossos direitos. Somos cidadãos e merecemos cidadania”, declarou ela, ao ser aplaudida com gritos de “presidente” e “O Brasil vai ter um presidente travesti”.
Patrimônio imaterial
O Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, também participou do evento. “A Parada LGBT é um momento de destaque e destaque da unidade nacional, que todos os brasileiros devem ser respeitados. Estamos aqui em nome da família brasileira, do amor verdadeiro, contra o ódio, contra a violência”, disse.
Os organizadores do evento também lançaram uma petição na internet pedindo “o fim dos descasos e retrocessos no legislativo”. O documento enfatiza que a população LGBT+, historicamente, alcançou conquistas apenas com a ajuda do Judiciário. “Precisamos de leis criadas e aprovadas pelo Poder Legislativo que possam garantir direitos à comunidade”, diz o texto.
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSol-SP) esteve na Parada LGBT+ de SP para reforçar a proposta de torná-la Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil — em 2006, a parada foi considerada a maior do mundo pela livro dos recordes, quando reuniu 2,5 milhões de participantes. Bomfim protocolou, na última quinta-feira, o Projeto de Lei (PL) 2.119/2024 na Câmara dos Deputados, solicitando tal reconhecimento.
Além disso, o parlamentar iniciará uma coordenação com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado ao Ministério da Cultura, para registrar o evento no “Livro de Comemorações” do município. Segundo ela, a intenção é garantir que o evento aconteça independentemente do governo no poder.
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