A semana foi de celebração do chocolate brasileiro. Nesta quinta-feira, 12, uma das maiores competições especializadas do mundo premiou diversas marcas nacionais entre as melhores da América Latina. E mais uma vez o Nugali, de Pomerode, pioneiro na premiação, esteve entre os homenageados, e vou contar um pouco do privilégio que tive em conhecer o cacau desde a Bahia até a fábrica catarinense e degustar os melhores chocolates do Brasil .
Primeiramente é bom lembrar que chocolate não é tudo igual. Nem está dividido apenas entre “leite” e “amargo”. Dos diferentes tipos de cacau é possível extrair uma infinidade de sabores – só no Brasil existem pelo menos três espécies do fruto – e, como o cacau brasileiro é um insumo reconhecido no mundo por suas especificidades, chegou a hora de chocolate nacional para irmos para o exterior e nos representar entre os melhores.
Cacau de imigração
O chocolate tem uma história longa e rica, que remonta às antigas civilizações da América Central e do Sul. Os maias e astecas, por exemplo, já utilizavam as sementes do cacau como base para uma bebida amarga e energética, associada a rituais religiosos e à nobreza. Porém, foi somente após a chegada dos colonizadores europeus ao continente americano, no século XVI, que o cacau foi introduzido na Europa, onde rapidamente ganhou popularidade, especialmente entre a aristocracia.
Com o tempo, o chocolate evoluiu de uma bebida exótica para um produto sólido, doce e acessível, principalmente com a democratização do açúcar em todo o mundo.
Atualmente, o mercado global de chocolate movimenta bilhões de dólares por ano. A Europa e os Estados Unidos estão entre os maiores consumidores, enquanto países como a Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Brasil são apenas os principais produtores de cacau. A colocação desses países produtores entre os melhores chocolates do mundo ainda é um desafio que o Brasil vem superando com exemplos como o Nugali.
Chocolate e Sustentabilidade
Isso porque, além de sinônimo de prazer e conforto, o chocolate também carrega questões complexas em sua história, envolvendo desde o cultivo do cacau até os processos industriais, devido aos impactos sociais e ambientais, o que certamente impede o reconhecimento.
Diante dos desafios da agricultura predatória no mundo, é crescente a demanda por um consumo mais consciente e responsável de chocolate. Por isso, muitas empresas estão investindo em iniciativas de comércio justo e práticas sustentáveis, como certificações de origem, programas de apoio às comunidades produtoras e compromissos com a redução de impactos ambientais, resultando em premiações e reconhecimento global.
Prêmio Internacional
O chocolate “Bean-to-bar” é um exemplo de tendência que busca garantir maior transparência, valorizando a qualidade do produto e a consciência do produtor. Nós, consumidores, por sua vez, temos um papel fundamental na transformação desta indústria. Ao escolher chocolates certificados de fontes éticas, você pode incentivar práticas mais justas e sustentáveis.
Com a missão de levar ao público a melhor e mais bem-sucedida produção, o International Chocolate Awards premia as melhores práticas e receitas do mundo desde 2012. As competições são realizadas em rodadas bean-to-bar e chocolaterias artesanais. Os vencedores das competições regionais vão para a Final Mundial, que este ano acontecerá em outubro.
Um passeio por Pomerode (SC) nos levou até a deliciosa fábrica de chocolates Nugali, que fica na rota turística de Enxaimel. Em um espaço moderno e sofisticado, uma imersão na fabricação de chocolates premiados desde 2016, quando Nugali conquistou uma medalha inédita entre os produtores brasileiros — com o tablete 80% Cacau Serra do Conduru.
O voo de Nugali
Logo ficou claro que a trajetória dos famosos chocolates de Pomerode que hoje conquistam o mundo se confunde com a trajetória empreendedora e de sucesso de sua fundadora, Maitê Lang, Engenheira de Produção formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que, antes empreendimento, teve experiência em multinacionais como Audi e Embraer. Em 2004, ela decidiu mudar sua carreira estável em São Paulo para retornar à sua cidade natal e construir sua própria fábrica de chocolates ao lado do marido, o também engenheiro Ivan Blumenschein.
A dedicação em criar os melhores chocolates do Brasil é reconhecida internacionalmente desde 2016 e também nacionalmente, quando em 2022, por exemplo, a Fábrica foi reconhecida pelo Prêmio Nacional de Inovação, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Entre as iniciativas premiadas está o desenvolvimento de embalagens 100% biodegradáveis, que reduziram em 75% a emissão de resíduos. O projeto também concedeu à Nugali o certificado Desperdício Zero.
Chocolates premiados em 2024
No recente International Chocolate Awards América e Caribe, Nugali recebeu quatro medalhas de bronze: a barra “Cacau em Flor 70%” foi premiada na categoria “Pure Dark Chocolate”. A barra “Cacau em Flor 63% com Pimenta Rosa” venceu na categoria “Chocolate Amargo com Pedaços”. O bar “Ao Leite com Café” foi reconhecido na categoria “barras com infusão” e, por fim, o bar “Gianduia” na categoria “Chocolate com Recheio”. Todos esses chocolates representarão o Brasil na etapa global da competição em outubro de 2024.
A dedicação dos empresários de Nugali em colocar o Brasil entre os melhores do mundo é, sem dúvida, motivo de orgulho para a gastronomia brasileira. Mais do que fazer um bom chocolate, este é um propósito de vida de contribuir para um mundo mais sustentável e também com um produto 100% nacional. Nugali entra para a lista de empresas que fazem do Brasil referência em meio ambiente. Ah, e os chocolates – experimentei todos – são impecáveis, uma delícia em cada mordida. Bravo!
Thiago Paes é colunista de Turismo e Gastronomia. Pesquisador independente das influências da gastronomia da imigração no Brasil. É apresentador de TV no Travel Box Brasil. E ele está no Instagram como @paespelomundo. Imprensa: contato@paespelomundo.com.br
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