Quase um mês depois da queda do avião que matou 62 pessoas em Vinhedo, no interior de São Paulo, a Força Aérea Brasileira (FAB) divulgou, ontem, o Relatório Preliminar sobre as causas da tragédia. O Centro de Pesquisa e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apresentou as informações que foram coletadas até o momento pelas equipes de investigação para responder o que aconteceu com o avião da empresa Voepass (antigo Passaredo), mas ainda não há conclusão sobre o que efetivamente causou o acidente. Dados preliminares, porém, revelam alguns problemas que podem ajudar a explicar o mistério.
A equipe do Cenipa analisou as duas caixas pretas encontradas na aeronave modelo ATR 72, que registram conversas na cabine e dados do equipamento que monitora a aeronave. Os investigadores ouviram os comentários do piloto e do copiloto sobre a formação de gelo nas asas, fenômeno que estava nas previsões meteorológicas que sustentam a aviação, antes mesmo da decolagem do voo 2283, que partiu do Aeroporto de Cascavel (PR) em direção ao aeroporto. Guarulhos Internacional, na Grande São Paulo.
Segundo o tenente-coronel Paulo Mendes Fróes, investigador responsável pelo Cenipa, por volta das 12h15, há uma gravação da voz do piloto comentando a possibilidade de falha no sistema de alerta de formação de gelo. Pouco mais de uma hora depois, às 13h20, já perto do início dos procedimentos de pouso, o copiloto comenta: “Muito gelo”. Nesse momento, a conexão do rádio com a torre de controle do terminal de São Paulo é perdida. No minuto seguinte, o avião caiu. Não há registro de qualquer alerta de emergência emitido pela tripulação, seja para a torre ou para aeronaves próximas.
Fróes demonstrou, por meio de um aeromodelo, que o piloto já estava fazendo uma curva para pousar em São Paulo quando ficou na vertical e entrou em uma “parafusa para o lado direito”. Posteriormente, o Voepass ATR estabilizou-se horizontalmente antes de entrar em “parafuso plano” até atingir o solo. Minutos antes do acidente, luzes do painel de controle acenderam, indicando alta concentração de gelo nas asas e baixa velocidade da aeronave.
“A condição (parafuso chato) não é normal, é uma situação extremamente atípica, não é esperada. As aeronaves possuem sistemas certificados para evitar entrar nesta condição, tanto o sistema de alerta quanto o sistema de controle para que isso não aconteça. Além disso, a tripulação possui treinamento para evitar que a aeronave chegue a essa situação. Considerando essa condição atípica, cabe agora investigar o porquê disso ocorreu”, acrescentou o coronel Carlos Henrique Baldin, chefe da Divisão de Investigações do Cenipa.
A aeronave permaneceu a uma altitude de 17 mil pés (cerca de 5 mil metros) durante todo o voo, pois uma parte chamada pack estava inoperante —cada avião possui dois deles. Segundo o Cenipa, os aviões estão autorizados a voar com apenas um pacote, mas a companhia aérea tem um prazo de dez dias para regularizar a situação. O dia do acidente foi o quarto dia em que o avião operou nessas condições. O pack é responsável por controlar a pressurização e o ar condicionado no interior da aeronave.
Documentação ok
Segundo apuração do Cenipa, o avião estava com manutenção atualizada, realizada pela última vez em 24 de junho de 2023, e possuía certificação de aeronavegabilidade válida. Também foram realizados check-ups diários, inclusive no dia do acidente. A aeronave também possuía certificados válidos para voar em condições de gelo, e a tripulação estava qualificada e treinada para lidar com esta situação.
O mesmo relatório também foi apresentado ontem aos familiares das vítimas, antes de ser divulgado à imprensa. “Seus desejos são por respostas o mais rápido possível. Temos experiência (de casos) em que conseguimos (concluir) em menos de um ano, mas estas são exceções a uma investigação tão complexa. Deveremos demorar mais de um ano (para concluir a investigação)”, explicou Baldin.
O chefe do Cenipa, brigadeiro Marcelo Moreno, reafirmou que o objetivo da investigação da FAB “não é punitivo” e, sim, uma forma de “buscar segurança no transporte aéreo”. “Não identificamos culpados, não fazemos presunção de responsabilidade civil ou criminal, apenas procuramos possíveis fatores que contribuíram para o ocorrido”, afirmou o brigadeiro.
“Esse acidente não deveria ter acontecido, já que esse sistema de proteção e certificados estão em vigor”, lamentou o Coronel Baldin, ao final da entrevista. Nas próximas etapas da investigação serão realizados exames de materiais, testes funcionais de equipamentos, entrevistas com ênfase nas condições individuais e psicossociais e análise de procedimentos operacionais e de manutenção.
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