Trabalhar sem receber nada em troca, e por vontade própria, não parece atraente em uma sociedade que valoriza as finanças e as coisas materiais. Ainda assim, pensar que existe uma pessoa do outro lado que se beneficia e é grata pelo seu trabalho duro faz com que muitas pessoas pensem duas vezes antes de recusar uma atividade não remunerada. Isso se chama trabalho voluntário. É com esse sentimento de solidariedade e apoio ao próximo que milhares de brasileiros se mobilizam para fazer algum trabalho voluntário para ajudar quem precisa.
Desde a pandemia da Covid-19, os incentivos ao trabalho voluntário cresceram em todo o país. Segundo dados da última pesquisa Voluntariado no Brasil do Desenvolvendo Investimento Social (Idis) e Datafolha, de 2021, 56% da população adulta afirma fazer ou já ter feito algum tipo de atividade voluntária. Os resultados foram muito positivos quando comparados com as últimas edições da pesquisa, em 2011 (25%) e em 2001 (18%). A pesquisa mostrou ainda que, em 2021, 34% dos entrevistados estavam comprometidos com atividades voluntárias, o que corresponde a 57 milhões de brasileiros.
Nos picos mais elevados da pandemia, mesmo com o isolamento social, 47% dos entrevistados relataram mais voluntariado, sendo a distribuição de recursos a atividade mais comum (61%). No mesmo período, 21% começaram a realizar atividades voluntárias online, sendo as mais comuns o apoio psicológico e as atividades educativas.
Distribuídas por todo o país, organizações não governamentais (ONGs) de voluntários ajudam todos os tipos de pessoas e animais em situações vulneráveis. Em Fortaleza, a ONG Ser Ponte trabalha na transferência de renda para mulheres chefes de família de baixa renda. Segundo a fundadora, Valéria Pinheiro, o projeto surgiu como uma medida emergencial para famílias em situação de vulnerabilidade durante a pandemia. “Em abril de 2020, conseguimos fazer a primeira transferência de dinheiro para 45 mulheres chefes de família. Todo o dinheiro da doação foi transferido para minha conta e depois redistribuído para as famílias”, explica.
Na altura, Valéria Pinheiro entendeu que, por questões de segurança sanitária, tentar recolher cestas básicas seria muito exigente para uma ONG que estava apenas a começar e colocaria todos em risco de serem infectados pelo vírus, razão pela qual optaram para uma doação em dinheiro. “Entendemos também que cada família tem suas necessidades. Então, pensamos no projeto na perspectiva de dar autonomia para essas mulheres decidirem sobre o uso dos recursos. comprar remédios, ou consertar alguma coisa em casa. Por isso, desde o primeiro momento decidimos repassar o auxílio em dinheiro”, ressalta.
Ser Ponte tenta disponibilizar mensalmente um valor entre R$ 200 e R$ 150 para mulheres, dependendo do valor das doações e das famílias beneficiadas. Atualmente, a ONG atende 48 mulheres em 6 territórios de Fortaleza, mas já apoiou 250 famílias em 23 localidades da cidade no período mais crítico da pandemia, quando receberam muitas doações. Valéria explica que para se manter em funcionamento, a Ser Ponte precisa de R$ 16 mil por mês, embora a maioria dos trabalhadores seja voluntária.
“Em novembro de 2021, nos tornamos pessoas jurídicas, como uma associação civil sem fins lucrativos e, então, criamos um conselho fiscal no qual apresentamos todos os meses um relatório financeiro aberto a quem doa e a quem recebe. repassar dinheiro não é comum, mas tem funcionado muito bem. Acreditamos que disponibilizar esse dinheiro para as mulheres fazerem o que precisam é uma injeção de confiança para elas”, afirma a fundadora.
Além da transferência de renda, Ser Ponte também trabalha com um grupo de psicólogas voluntárias que, desde 2021, prestam atendimento individual e coletivo a mulheres de comunidades e grupos militares de defesa dos direitos das mulheres. “Durante a epidemia também fomos no sentido de ‘cuidar do cuidador’. Nosso grupo de psicólogas voluntárias ajuda essas mulheres que passam a vida ajudando outras pessoas”, afirma.
BSB Invisível
Na capital do país, as manifestações e mobilizações para ajudar o próximo também estão presentes em vários aspectos. Um exemplo é o grupo voluntário BSB Invisível, que tem como objetivo contar a história de pessoas “invisíveis” na sociedade, a população em situação de rua. O publicitário e cofundador da ONG, Pedro Campos, explica que o projeto surgiu da vontade de lutar contra o preconceito e a discriminação que a população em situação de rua enfrenta e tornar reais as histórias dessas pessoas e não mais “invisíveis”.
“São histórias invisíveis contadas por pessoas invisíveis para tentar mudar a visão da sociedade sobre essas pessoas. Quando você conhece a história de alguém que está em situação de rua, você entende que cada pessoa tem sua individualidade, sua dor e sua trajetória. O objetivo do projeto é dar visibilidade para as pessoas contarem suas histórias, além de ser um espaço para elas pedirem ajuda”, explica.
Os vídeos são publicados nas redes sociais do BSB Invisível e são uma forma dos seguidores divulgarem as histórias e ajudarem no que for possível. Em uma das publicações, o projeto contou a história de Valter, 32 anos, técnico em manutenção de equipamentos eletrônicos, que acabou morando na rua devido ao vício em drogas.
“Sou técnico em manutenção de celular, notebook, tablet, computador. Me perdi, infelizmente, nas drogas. Mas, atualmente, estou limpo, não uso mais, graças a Deus. Mas falta de oportunidades. Meu sonho é ter minha vida como apoio. É difícil sair da rua, conseguir pagar aluguel, ter onde dormir, preciso de emprego em qualquer área, pode ser vendas durante o dia. Costumo trabalhar vendendo doces”, conta Valter. Ele também pediu ajuda para conseguir roupas novas, pois só tinha o que tinha nas costas. Nos comentários, diversas pessoas se mobilizaram para doar roupas, tênis e doces para que ele pudesse vendê-los no semáforo. “Através da plataforma digital conseguimos ganhar mais visibilidade para esses casos. Para que a sociedade tenha um olhar diferente sobre a população em situação de rua, para que ela entenda a realidade”, afirma Campos.
Além disso, a ONG também organiza eventos de arrecadação de fundos e campanhas de conscientização. “Realizamos campanhas de arrecadação de material escolar e de carnaval, o que é um apoio aos catadores de lixo que ajudam na limpeza da cidade neste momento. Agora vamos fazer isso também no dia 28 de setembro, no Dia das Crianças”, afirma o publicitário.
Visibilidade no exterior
Do outro lado do país, em Alagoas, Carla Fontes, hoje diretora regional da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra), iniciou trabalho voluntário com um grupo de amigos durante a pandemia. “Identificamos as necessidades de alguns grupos de pessoas, como idosos que não podiam ir ao mercado, outros que não podiam trabalhar. Então, começamos a fazer contato com essas pessoas e a fazer campanhas de arrecadação de recursos”, explica. .
Carla Fontes conta que o projeto assumiu uma proporção maior do que imaginavam. “No início atendíamos 15 famílias, mas foi crescendo tanto que chegamos a atender 400 famílias por semana, entregando frutas, verduras e doações”, conta. Seu trabalho começou a ganhar mais visibilidade, até que a Adra, uma ONG internacional, se interessou em gerir o projeto. “A partir daí conseguimos fundar o primeiro núcleo da Adra aqui em Alagoas e me tornei diretora dessa região”, conta.
O diretor da Adra no Brasil, Fábio Salles, explica que a ONG atua no Brasil com 240 projetos de desenvolvimento e emergenciais espalhados por todo o país. “No ano passado tivemos 1051 voluntários a trabalhar nos projetos, que podem ser parcerias públicas ou privadas. O voluntário vem acrescentar que os recursos que temos para o projeto não são suficientes para cobrir”.
Apesar de ser um grupo criado pela Igreja Adventista, Salles explica que apenas a liderança é mantida pela igreja, o restante é arrecadado com recursos governamentais ou privados.
Carla revela que o trabalho voluntário não ajuda apenas quem está do outro lado, mas também quem se dedica a ajudar o próximo. “Dedique-se ao máximo e doe sem esperar nada em troca. O voluntário é quem sai da experiência transformado” , ele conclui.
Estagiária sob supervisão de Rosana Hessel
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