O novo relatório Construir caminhos, pactuando novos horizontes no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) aponta ideias sobre o desenvolvimento humano e a situação das famílias no país.
A pesquisa entende que os domicílios devem ser analisados como espaços que podem oferecer às pessoas acesso a uma saúde melhor e ao mesmo tempo podem ser espaços onde se acumulam vulnerabilidades dos indivíduos – desde o início do ciclo de vida e ao longo dele.
“Homens e mulheres ocupam papéis diferentes dentro dos agregados familiares, especialmente no que diz respeito à carga de trabalho associada às tarefas de limpeza, manutenção da casa e cuidado dos seus habitantes”, refere o relatório. “Em países com níveis mais elevados de preconceito de género contra as mulheres, estima-se que as mulheres passam seis vezes mais tempo do que os homens em trabalho de cuidados não remunerado”.
“Esta responsabilidade desigual pelo trabalho realizado dentro dos agregados familiares não afecta igualmente as mulheres, uma vez que este factor é influenciado pela classe económica a que a mulher pertence”, afirma o relatório. Pessoas com maiores condições econômicas terceirizam os serviços domésticos. “Nesse sentido, as mulheres brancas, que estão presentes em maior número nas camadas de renda mais elevadas, têm sua autonomia para trabalhar fora de casa e sua independência financeira muito menos afetada por essa dinâmica de divisão desigual do trabalho intradomiciliar”.
A pesquisa analisou que os percentuais de domicílios sob responsabilidade de homens e mulheres são próximos, 52% e 48%, respectivamente. A análise também mostra uma percentagem mais elevada de agregados familiares com responsabilidade por homens e mulheres negros do que por brancos, 56% e 44%, respetivamente.
Os domicílios sob responsabilidade de mulheres negras, que representam 27,4%, abrigam, proporcionalmente, mais pessoas (29,5%) e crianças (34,7%), em comparação aos demais grupos.
Ao analisar a distribuição de renda, 60% da população brasileira mais pobre é, em grande parte, dependente das condições de trabalho e de vida das mulheres negras.
A representação relativa dos domicílios sob responsabilidade de mulheres negras, com seus dependentes, é responsável por 42,8% dos domicílios do 1º decil de renda (ganhando até 110 reais por mês).
Em relação às crianças, neste primeiro decil, elas equivalem, em números absolutos, a 6,5 milhões de pessoas, o que representa 16% de todas as crianças do Brasil, das quais 75% são negras.
Nível de instrução
É possível verificar a maior participação relativa dos negros nos grupos de menor escolaridade, uma participação semelhante no nível do ensino médio completo e uma redução substancial no nível do ensino superior completo.
Nos dois extremos da escala de escolaridade, homens e mulheres negras representam, respectivamente, 28% e 29% do total da população com mais de 5 anos, mas pertencem aos 66% de pessoas sem escolaridade ou com até 1 ano de escolaridade e 15% e 21%, respectivamente, da população com ensino superior completo.
O relatório aponta alguns motivos que influenciam a disparidade: entrada mais precoce da população negra no mercado de trabalho, especialmente dos homens negros; sobrecarga de serviços domésticos das mulheres negras em suas próprias residências ou em outras residências; maternidade precoce de mulheres negras; programas insuficientes para a retenção dos alunos mais
pobres nas universidades.
A população negra adulta sem qualquer nível de escolaridade ou sem ensino fundamental completo gira em torno de 35%. A parcela da população adulta branca sem escolaridade gira em torno de 25%.
Participação no mercado de trabalho
A participação das mulheres negras na força de trabalho do país é de 23,4% e na população ocupada é de 21,4%. “A participação relativamente baixa das mulheres negras na atividade económica, em grande medida, ocorre contra o seu desejo e necessidade. […] O principal obstáculo que os impede de trabalhar são as suas responsabilidades de “cuidar das tarefas domésticas,
da(s) criança(s) e demais familiares”, aponta o estudo.
31,8% das mulheres negras estão fora do mercado de trabalho porque cuidam dos filhos e de outros parentes. Para as mulheres brancas, o percentual é de 27%. Entre os motivos definidos pelos homens, pretos e brancos, esse impedimento é insignificante, a saber: homens negros (2,2%) e homens brancos (1,8%).
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