Anderson Braga-Horta começou a escrever os versos de Iniciações um tanto sem compromisso, mas com aquela sensação de mergulho no passado. Ao ver, uma coisa levou à outra e o poeta trouxe para o papel uma série de lembranças aquecidas de carinho e boas lembranças. Como não sabia exatamente do que se tratava, escreveu o poema imediatamente. Avisono qual questiona: “Ao pensar em como oferecer ao leitor os textos aqui apresentados, me ocorre uma dúvida: são poemas? crônicas?”. Mais adiante, alerta: “Que o leitor leia como achar melhor. Soberanamente./Mas note-se que o autor pretendia dar a estes breves relatos/de sua pequena trajetória humana/uma aura, pelo menos, de poesia”. E assim surge a dúvida, que em nada impede a leitura deste livrinho delicado e afetuoso, o mais recente do poeta.
Anderson Braga-Horta nasceu em Carangola, interior de Minas Gerais, mas passou parte da infância na cidade de Goiás, onde chegou por volta dos 7 anos. Ficou, mais ou menos, até os 11 anos. “Não muito, mas foram anos de infância muito intensos e especiais, um período muito bom da minha vida, um período rico”, lembra. “Era uma cidade encantadora, rica em natureza, antiga, relativamente pequena, mas com riqueza arquitetônica e urbanística”. Vila Boa foi um dos primeiros poemas escritos para o livro. Quando o viu, Braga-Horta tinha escrito um livro inteiro sobre a cidade.
Leia também: Concerto Negro celebra ancestralidade afro-brasileira, neste sábado e domingo, no Teatro Plínio Marcos
O novo livro, diz ele, é diferente de tudo que ele já escreveu. “São lembranças em verso”, alerta. “Mas versos um tanto prosaicos, muito narrativos, então me perguntei: é poesia, é crônica? Vi que estava fazendo um livro sobre minha infância em Goiás”, confessa. É uma boa forma de comemorar hoje o 90º aniversário do poeta e que será comemorado no Sarau Pedra 90, organizado pelo amigo e poeta José Sóter. A intenção é reunir 90 poetas brasilienses para recitar versos de Braga-Horta em encontro na Biblioteca Nacional de Brasília marcado para as 17h do dia 21.
(foto: Divulgação)
Autor de pelo menos seis livros de poesia, incluindo este Iniciações; participação em antologias de poemas e contos e em alguns livros de ensaios sobre a arte de escrever versos e traduzir livros, Braga-Horta é um poeta à moda antiga, com uma formação clássica, que o levou por todas as escolas. Romântico, parnasiano, simbólico, pré-moderno, bebeu de todos eles num exercício que chama de “imitação”, mas que resultou numa poesia consistente e estruturada.
Leia também: Hermeto Pascoal, Erasmo Carlos e Ana Castela são premiados no Grammy Latino
Primeiro com versos bem medidos, respeitando métricas e formas, depois com mais liberdade, como os versos livres de Iniciaçõeso poeta dedicou-se à prática de dominar ferramentas e depois desconstruí-las. “Comecei a imitar, até me familiarizar e entender o modernismo. Deixei de imitar todo aquele grupo para imitar os modernistas também. E aí veio a ‘desimitização’, que é um aprendizado e pode ser negativo também”, brinca. Em entrevista com CorrespondênciaAnderson Braga-Horta fala sobre a funcionalidade da poesia e as mais de seis décadas de dedicação ao verso.
Entrevista//Anderson Braga-Horta
Em Iniciaçõesvocê se entrega ao verso livre e faz questão de anotá-lo. Por que?
Pratico versos medidos e versos livres com indiferença. Minha formação é tradicional, então passei meus primeiros anos praticando versos medidos. Quase todo mundo. Fiz algumas tentativas de cobrança de falta. E acho que só aprendi a usá-lo quando fui de Minas para o Rio de Janeiro. Mas Indicações não tem versos medidos, é tudo verso livre. Parece-me que foquei este livro na memória, na narrativa. Mas é uma narrativa lírica, então, em relação aos meus trabalhos anteriores, está mais próxima da prosa. Foi o que pensei na época. É um livro muito diferente do que eu queria escrever. E a diferença também se resume ao tom confessional. É difícil falar da obra em si porque o autor pensa uma coisa e o leitor discorda.
Leia também: Grupo de ópera liderado por brasiliense se apresenta em Nova York
Em todos esses anos escrevendo poesia, você ocasionalmente pensa sobre para que servem os versos?
Eu respondi a essa pergunta de vez em quando. Não serve para nada, nada prático. Mas é útil, sim. Descobri que o poema pode conter pensamento, alto ou baixo, e pode conter música, beleza. Quando descobri isso me encantei, principalmente com os poemas românticos. A poesia também serve como veículo de beleza. Para mim, pessoalmente, foi o maior motivo para continuar escrevendo. E também serve como veículo para o pensamento filosófico e político. Afinal, para que serve a poesia? Tem uma função no âmbito da cultura, da inteligência e da vida humana. Serve para refinar o espírito, refinar a capacidade de pensar e a capacidade de sentir. É um veículo de sentimento e pensamento. Menosprezar a poesia é menosprezar uma das excelentes criações do homem.
O que te incentiva a escrever?
O que me incentiva a escrever poesia é a beleza, o amor, o sentimento, a tentativa de compreender a vida e a morte, mas também a raiva. Daí a poesia com sentido social, que também pratiquei, porque houve tempo para isso. Hoje estou velho demais para isso e o mundo está muito quebrado.
Você está trabalhando em algo agora?
Tenho um poema que tenho escrito, em prosa, também como Iniciações, mas mais prosa do que poesia. São pequenos textos que têm o poético e também o testamentário. São pequenos textos completos em si.
Qual é a fronteira entre prosa e poesia para você?
A prosa tem um sentido discursivo evidente, às vezes não chega perto, dependendo. A prosa e a ficção podem atingir certas qualidades poéticas. A fusão da narrativa e da poética pode ser uma bagunça, e talvez na maioria das vezes seja, mas pode produzir obras brilhantes. É muito difícil. Mas, basicamente, a prosa literária se destaca pela narrativa, principalmente. Há prosa em que não se consegue distinguir poesia.
Você já se aventurou nos contos, mas nunca no romance. Por que?
Tentei e até comecei, mas descobri que não tinha convicção para escrever um romance. Não tenho vocação. A minha vocação literária foi despertada pela poesia, por poetas de alto nível. Ampliei o meu percurso poético para abranger também os clássicos, desde pré-Camões.
Serviço
Iniciações
Por Anderson Braga-Horta. Tagore Editora, 78 páginas
consultar proposta banco pan
blue site
cartao pan consignado
juros consignados inss
empréstimo banrisul simulador
cnpj bk
o que significa consigna
banco consignado
emprestimos no rio de janeiro
simulados brb
juro consignado