O pacote de corte de gastos apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, terá impacto direto nas finanças do Distrito Federal, caso seja aprovado pelo Congresso na forma como está. A equipe econômica quer mudar a forma de correção dos repasses ao Fundo Constitucional do Distrito Federal, que responde por quase 40% do orçamento da capital federal.
Atualmente, os valores que a União transfere para o Fundo são recalculados com base na variação da Receita Corrente Líquida (RCL) da União, ou seja, se a receita do governo aumenta, as transferências também aumentam.
O que a equipe de Haddad pretende é que a correção desses valores seja feita considerando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador que mede a inflação no Brasil. Este é o índice oficial do país, usado como base para correção de salários, aluguéis e até poupança.
Para o governo federal, a indexação ao IPCA tornaria as transferências mais previsíveis, pois não aumentariam junto com a receita da União. “O que estamos prevendo é que o Fundo Constitucional do Distrito Federal terá a mesma cláusula de reajuste do Fundo (Nacional) de Desenvolvimento Regional, seja ele qual for. Hoje é o IPCA”, disse Haddad, nesta quinta-feira, no coletiva de imprensa na qual detalhou o pacote.
Segundo o ministro, a medida colocará o Distrito Federal em pé de igualdade, em termos de correção de valores, com o restante do país. “Não pode haver descompasso entre o Fundo de Desenvolvimento Regional de um ente federado e o fundo de um país inteiro consagrado na reforma tributária. Então, vamos compatibilizar com o IPCA neste momento o que também será acrescentado no espírito de manter despesas obrigatórias dentro dos limites do quadro fiscal.”
O governo do Distrito Federal argumenta que a mudança significaria menos recursos para segurança pública, saúde e educação.
Em 2020, primeiro ano com registros de repasses ao Fundo Constitucional do Distrito Federal, o valor reservado no Orçamento foi de R$ 15,7 bilhões. Foi corrigido pela RCL para R$ 15,86 bilhões em 2021; subiu para R$ 16,27 bilhões no ano seguinte e atingiu R$ 23 bilhões no Orçamento do ano passado —um aumento de 41% em relação ao ano anterior, após a receita federal atingir seu melhor resultado desde 1995.
Para 2024, o Orçamento da União previu R$ 23,38 bilhões para o FCDF, sendo aproximadamente R$ 10,7 bilhões para segurança pública, R$ 7 bilhões para saúde e R$ 5,5 bilhões para educação. O valor representa 38% do orçamento total do DF neste ano.
Caso a correção do IPCA já estivesse em vigor no final de 2023, o valor do repasse teria aumentado em R$ 1,06 bilhão, considerando que a inflação acumulada em 2023 foi de 4,62%. Com a regra atual, o repasse aumentou apenas R$ 380 milhões, o que corresponde a um aumento de apenas 1,65% em relação ao ano anterior.
Ofensiva
Em 2023, o governo federal atuou para que o texto do marco fiscal incluísse a mesma alteração na correção dos valores do Fundo. Segundo cálculos da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Administração do GDF, o Distrito Federal poderia deixar de receber R$ 87 bilhões em 10 anos, caso a correção fosse alterada pelo novo marco fiscal e vinculada ao IPCA.
Na época, o relator do texto na Câmara, Cláudio Cajado (PP-PA), resistiu aos apelos do GDF para retirar essa mudança do texto. No Senado, porém, a situação foi diferente. Acompanhado de deputados e senadores do DF (incluindo parlamentares de espectros políticos opostos), o governador Ibaneis Rocha (MDB) foi à casa do relator do texto na Casa Alta, Omar Aziz (PSD-AM), para pedir a retirada do FCDF do o imposto histórico. Teve sucesso, e o texto acabou aprovado no Senado, mantendo a correção da RCL.
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