O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, enfatizou que o governo federal trabalhará para derrotar a Proposta de Emenda à Constituição 3/2022, a chamada PEC das Praias, que abre brecha para privatizar áreas litorâneas, atualmente pertencentes à União . O texto tramita no Senado.
“O governo é contra qualquer programa de privatização de praias públicas, que restrinja o povo brasileiro de poder frequentar essas praias. No estado em que está a proposta, o governo é contra”, enfatizou Padilha, ontem, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e parlamentares responsáveis pela articulação com o Congresso.
A PEC autoriza a venda de terrenos marinhos para empresas e pessoas que já ocupam a área. Os lotes deixariam de ser partilhados entre o poder público e os ocupantes, passando a ter apenas um proprietário. Apenas as áreas que ainda não estão ocupadas e onde são prestados serviços públicos, como portos e aeroportos, permaneceriam sob propriedade do governo.
O texto, de autoria do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), foi discutido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na semana passada. “Foi realizada uma audiência pública que deu visibilidade ao tema. A audiência pública deu uma pauta, teve até Luana Piovani e Neymar discutindo. Foi uma audiência pública, não foi uma votação”, acrescentou o ministro.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), demonstrou que o tema não deve ser tratado com urgência no plenário. O parlamentar garantiu que “não haverá pressa” na análise da PEC.
“Considerando que se trata de uma mudança constitucional, um tema que acabou ganhando muita notoriedade e repercussão, é muito importante ouvir todos os segmentos, a sociedade civil e os agentes que querem debater esse tema”, argumentou. “É muito importante ouvir para que possamos chegar a uma conclusão sobre o mérito, se é bom, se não, em que termos é bom. Então, obviamente esse amadurecimento será feito. não há pressa nem haverá, à noite para o dia, pauta no plenário para pegar os senadores de surpresa”, completou.
Segundo Pacheco, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) protocolou requerimento pedindo debate no plenário da Câmara sobre o assunto. O pedido do parlamentar petista deve ser votado na próxima sessão.
Pacheco demonstrou, porém, que não queria invadir a competência do presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (União-AP), já que o texto ainda tramita em votação no colegiado. “Quero me alinhar à Comissão de Constituição e Justiça também, porque é possível fazer audiências, inclusive na própria CCJ, que é o local adequado, neste momento, para discutir esse tema”, considerou.
Ele evitou avaliar o assunto, mas confessou que não tem posição consolidada. “Foi orientada pela CCJ, não foi uma deliberação da Mesa Diretora do plenário do Senado. Então, vou ser muito cauteloso”, frisou.
Para o Correspondência, Contarato afirmou ser a favor do fim das “cargas obsoletas” para quem ocupa terras da Marinha. “Mas da forma como está escrita, a PEC deixa margem para uma distorção da destinação das áreas que devem ser protegidas em nosso país, tanto do ponto de vista social – de acesso – quanto do ponto de vista ambiental – de preservação”, ele destacou.
No sábado, o senador Flávio Bolsonaro usou as redes sociais para defender o texto. O parlamentar afirmou que “estão inventando que as praias vão ser privatizadas” e atribuiu a narrativa a “malucos de esquerda”.
“Isto é uma grande mentira. Uma narrativa que a esquerda está a criar, porque o governo tem medo de perder receitas”, acusou. “Imagina se você tem um empreendimento grande que quer se instalar na Bahia, e acabamos com o fórum, com o laudêmio (exemplos de taxas pagas). Obviamente o empresário vai se interessar mais, porque vai sair mais barato, sim. Ele não terá que pagar essas taxas todos os anos, nem no caso de transferência de propriedade para ninguém”, acrescentou.
“Conversa da história”
A PEC das Praias é fortemente criticada por ambientalistas e ativistas climáticos devido ao risco de flexibilização das leis ambientais em áreas vulneráveis a eventos extremos. A coordenadora do Grupo de Trabalho de Uso e Conservação Marinha (GT-Mar) do PanelMar, Letícia Camargo, avaliou que o uso indevido de terras marinhas privilegiará grupos específicos. “Essas terras deveriam ser cuidadosamente restauradas de acordo com suas funções ecológicas originais. Essa PEC vai dividir o patrimônio da União, vai privilegiar poucos em detrimento de toda a sociedade brasileira”, destacou.
Letícia explicou que os 33 metros de terreno marinho são fundamentais na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. “São bens públicos com finalidade socioambiental. Incluem manguezais, estuários, restingas, ilhas, lagos, portanto são áreas de extrema importância para redução da vulnerabilidade da zona costeira”, destacou. “Essa PEC vai contra a história, enquanto o mundo assiste à tragédia causada pelos eventos climáticos no Rio Grande do Sul”.
A construção de empreendimentos no terreno é outra preocupação dos ambientalistas. A porta-voz do Greenpeace Brasil, Gabriela Nepomuceno, enfatizou que o argumento para promover o turismo na costa brasileira e, consequentemente, as oportunidades de emprego, não “se enquadra mais no contexto da crise climática”.
“Precisamos reverter a qualquer custo a lógica do desenvolvimento, com a construção de grandes projetos, por exemplo. Essa lógica levou a uma situação de crise climática gravíssima”, notou.
Para a CEO da Synergia Socioambiental, Maria Lins Albuquerque, usar o turismo como argumento não é o caminho certo em termos de questões socioambientais. “O potencial turístico do Brasil tem sido mal aproveitado, é necessária uma visão de apoio ao desenvolvimento local e à qualidade de vida das populações que vivem em locais turísticos. E, então, pode-se pensar que ambientes preservados, com uso controlado, são atrativos turísticos”, disse. avaliado.
Em audiência pública no Senado na semana passada, parlamentares e prefeitos se manifestaram a favor da proposta, argumentando que ela promoverá empregos no litoral brasileiro. O deputado Alceu Moreira (MDB-RO) afirmou que a proposta “não prejudica a legislação ambiental brasileira”.
Em apoio, o prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), argumentou que os municípios já são os principais administradores. “O facto de serem terrenos marinhos não elimina o facto de o município ter que fazer investimentos. Se forem privatizados não vai acabar com o compromisso do município”, frisou.
Estagiária sob supervisão de Cida Barbosa
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