Esta semana estreou no Brasil o documentário do chef viajante pioneiro, Anthony Bourdain. Roadrunner, de 2021, narra em primeira pessoa a vida do chef nova-iorquino que revelou os bastidores das cozinhas em seu livro “Cozinha Confidencial” (lançado em 2000) e conquistou o mundo com séries de TV sobre as preocupações de cozinhar, diversidade cultural, visitando locais pouco turísticos, registrando momentos históricos. Bourdain não era guia de viagens nem curador de prêmios. Na estrada descobriu lugares, contou histórias e foi muito além de conteúdos triviais sobre gastronomia.
O homem tímido por baixo do cozinheiro “maluco” foi exposto no documentário. É uma ode ao turismo gastronómico, ainda hoje incompreendido. Viajar para conhecer a gastronomia de diferentes lugares é um ato político, uma forma de chamar a atenção para as mudanças sociais, econômicas, culturais e ambientais. Bourdin contrariou a superficialidade dos temas que permeiam a culinária. Ele foi da rua para o Oscar.
Se há um legado que Bourdain deixa bem claro é: o mundo é um lugar que vale a pena conhecer e comer. E tudo isso é pano de fundo.
LEIA TAMBÉM: Vai dar certo: turismo, gastronomia e reconstrução do Rio Grande do Sul
Era Bourdain
Talvez a figura de um homem na casa dos cinquenta viajando pelo mundo, descobrindo restaurantes, lugares, culinárias, identidades, degustando comidas exóticas não chame tanta atenção se comparada à infinidade de experiências ao redor do mundo que vemos nas redes sociais. O fato é que na Era Bourdain o mundo ainda era um lugar desconhecido. E se hoje a distribuição em massa de conteúdos semelhantes cansa quem os consome, tudo parece igual, igual, o documentário traz esperança de que assuntos complexos sejam consumidos de forma menos fugaz, menos infantil.

Anthony nos ensinou que comer na rua é pura gastronomia, que o cozinheiro deve conhecer os ingredientes do mundo, ser ousado, saber relacionar conceitos, aculturar. E seu jeito único de falar sobre comida no mundo todo diante da mesmice das redes com seus pratos gourmet por prêmios pouco convidativos, continua inovador, corajoso, audacioso.
Até os seus problemas pessoais, que vão desde a cozinha até à família, fazem parte das preocupações dos chefs de hoje. Recebo relatos emocionados no meu Instagram de cozinheiros muito talentosos que sofrem de depressão por não se sentirem capazes, reconhecidos ou recompensados. Uma frustração que afasta talentos incríveis, produtos e produtores únicos do público.

Nachbin
E embora a lenda Bourdain tenha inspirado tantos viajantes e cozinheiros, como eu, minha referência para viajar pelo mundo veio de um programa da TV Futura, “Passagem para”, em que o jornalista Luís Nachbin, com uma câmera na mão, viajava aos lugares mais incríveis do mundo, principalmente conhecendo as histórias das pessoas e sua possível relação com o Brasil. Não me lembro de um único episódio que não me emocionasse com os encontros promovidos pela série.
LEIA TAMBÉM: Resistentes aos modismos: restaurantes fazem história com boa comida e clientela cativa
Um pouco de Bourdain, um pouco de Nachbin. Uma inspiração que até hoje renova aquele menino que fui, que sonha em conhecer o mundo. E acredito que estou no caminho certo, porque falar de comida para mim significa provar culturas, conhecer pessoas, identidades, paixões, tradições. Tudo isso me toca de forma sensível, tudo isso me transforma em porta-voz, em conhecimento. E viver é saber.

Comer é um ato de necessidade. Mas é também um ato de vontade, um carinho, uma memória, uma forma de contar histórias, de reunir, de unir, de reconciliar, de amar.
O bate-papo de hoje é dedicado a dois ídolos que me fizeram arregalar os olhos diante da TV, que despertaram em mim uma curiosidade pelo mundo, fora do óbvio, uma imersão nativa em cada lugar. Bourdain se renova a cada tema necessário sobre sustentabilidade. Nachbin cada vez mais necessário e atual no seu pioneirismo, no seu dom de relacionar culturas, de contar histórias de pessoas. O turismo é cada vez mais necessário para implementar agendas importantes, para resgatar memórias, histórias e viabilizar futuros. Pense nisso!
Thiago Paes é colunista de Turismo e Gastronomia, apresentador de TV do canal Travel Box Brazil e está nas redes sociais como PaesPeloMundo – contato@paespelomundo.com.br
Siga-o @portaluaiturismo no Instagram e TikTok @uai.turismo
Você gostou do artigo? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:


Dê sua opinião! O Correio tem espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail sredat.df@dabr.com.br
globo.com br
o globo
terra mail
g1 noticias
g1 notícias